O poeta Helder Herik está lançando seu terceiro livro, que vendeu em Garanhuns, impressionantemente, mais de 350 exemplares em uma semana. A obra pode ser adquirida na Livraria Mec, Pérola Joia, Banca de Revistas Avenida e, brevemente, na Livraria Casa Café. Trata-se do livro SOBRE A LÁPIDE: O MUSGO. O poeta, segundo o crítico literário André Cervinskis, vem construindo uma obra que se destaca no cenário atual da literatura e, embora seja pouco conhecido do grande público, é um nome que vem se fazendo conhecer nas rodas literárias.
Já para o consagrado poeta Mineiro Affonso Romano de Sant’Anna, Helder é um poeta original e um dos nomes para a literatura brasileira marcar. A romancista Luzilá Gonçalves Ferreira revela que o poeta leva a sério sua vocação de trabalhar as palavras e seus livros podem ser lidos sem causar o tédio de alguns livros que vem se publicando com o nome de poesia. Para deixar o leitor a par da densidade poética que Herik traz em seus versos, transcrevermos um estudo feito pela Professora Ana Beatriz Camponado (Doutora em Literatura Comparada). Segue:
Quando lemos os livros de Helder Herik logo percebemos a preocupação com a linguagem trabalhada em várias dicções, além, é claro, da elaborada criação de imagens. Cada poema seu remete a um turbilhão delas. Dislexo, o poeta afirma compreender apenas as palavras que saem da leitura do papel e se transformam em coisas. “Há palavras que ficam acorrentadas, essas são as reumáticas. Já outras parecem aves espantadas, saem voando e eu vou junto; avoado que sou, não pouso mais.”
SOBRE A LÁPIDE: O MUSGO é um Livro composto de quatro poemas, cada um com uma dicção diferente, tornando o livro mais polifônico. Plural.
No poema INFÂNCIA DE PLÁSTICO, temos o fabuloso universo infantil. Sempre revisitado pelo poeta. Nesse poema, a criança constata a existência de outra pele por cima da pele humana. Esta sendo formada pelo grude que se acumula na infância. As brincadeiras com a terra, o suor e o banho como perda de tempo. A vida passando e o menino tomando banho. Castigo terrível. Foi com o banho mais atento (esfregando bem o grude) que o menino se deu conta que perdia a inocência e o grude lavado acabava levando sua infância pelo ralo.
O poema COISAS DE CASA é uma bem-sucedida analogia entre os objetos domésticos (faca, fósforo, geladeira, vaso sanitário — este antológico) e o ser humano. Como se os objetos, devido o seu uso por humanos, acabassem por se humanizar. Seria, talvez, uma resposta à pergunta de José Saramago sobre “o que fazem as coisas quando não estamos a olhar para elas?” Assim, temos a faca nadando no peixe, o fogão que amamenta, o fósforo perdendo a cabeça, entre outros.
O CORPO QUE FICA descreve a dor de uma mulher, já sem brilho nos olhos, cabelos em falripas e boca fechada em túmulo. Vivendo numa casa com cheiro de mato e habitada por percevejos. Em meio a toda essa situação, encontramos um quadro de Charlie Chaplin, um vestido branco e ferrugens se acumulando.
Por fim, o poema SOBRE A LÁPIDE: O MUSGO. Um recorte de cenas trágicas. Cenas em que a autoria pertence ao próprio homem. Uns causadores e outros vítimas. Temos o chumbo entrando na clavícula; espalhando sementes por salas, quartos, cozinhas, sótãos... São geleiras definhando, línguas dormentes, canos estourados, vento uivando, sarnas, falanges, engulhos, veias abertas, cupins migrando, estampidos, viadutos e ossos estalando... São recortes do terrorismo que não podem ficar apenas nos quinze segundos de nossas tevês, seguidos por um comercial de bronzeador. Haveria ainda espaço para o humanismo praticável ou já nos basta a nossa vaidade de cada dia? Fica a provocação para a leitura deste POETA que tão bem vem representando o nosso tempo.
Já para o consagrado poeta Mineiro Affonso Romano de Sant’Anna, Helder é um poeta original e um dos nomes para a literatura brasileira marcar. A romancista Luzilá Gonçalves Ferreira revela que o poeta leva a sério sua vocação de trabalhar as palavras e seus livros podem ser lidos sem causar o tédio de alguns livros que vem se publicando com o nome de poesia. Para deixar o leitor a par da densidade poética que Herik traz em seus versos, transcrevermos um estudo feito pela Professora Ana Beatriz Camponado (Doutora em Literatura Comparada). Segue:
Quando lemos os livros de Helder Herik logo percebemos a preocupação com a linguagem trabalhada em várias dicções, além, é claro, da elaborada criação de imagens. Cada poema seu remete a um turbilhão delas. Dislexo, o poeta afirma compreender apenas as palavras que saem da leitura do papel e se transformam em coisas. “Há palavras que ficam acorrentadas, essas são as reumáticas. Já outras parecem aves espantadas, saem voando e eu vou junto; avoado que sou, não pouso mais.”
SOBRE A LÁPIDE: O MUSGO é um Livro composto de quatro poemas, cada um com uma dicção diferente, tornando o livro mais polifônico. Plural.
No poema INFÂNCIA DE PLÁSTICO, temos o fabuloso universo infantil. Sempre revisitado pelo poeta. Nesse poema, a criança constata a existência de outra pele por cima da pele humana. Esta sendo formada pelo grude que se acumula na infância. As brincadeiras com a terra, o suor e o banho como perda de tempo. A vida passando e o menino tomando banho. Castigo terrível. Foi com o banho mais atento (esfregando bem o grude) que o menino se deu conta que perdia a inocência e o grude lavado acabava levando sua infância pelo ralo.
O poema COISAS DE CASA é uma bem-sucedida analogia entre os objetos domésticos (faca, fósforo, geladeira, vaso sanitário — este antológico) e o ser humano. Como se os objetos, devido o seu uso por humanos, acabassem por se humanizar. Seria, talvez, uma resposta à pergunta de José Saramago sobre “o que fazem as coisas quando não estamos a olhar para elas?” Assim, temos a faca nadando no peixe, o fogão que amamenta, o fósforo perdendo a cabeça, entre outros.
O CORPO QUE FICA descreve a dor de uma mulher, já sem brilho nos olhos, cabelos em falripas e boca fechada em túmulo. Vivendo numa casa com cheiro de mato e habitada por percevejos. Em meio a toda essa situação, encontramos um quadro de Charlie Chaplin, um vestido branco e ferrugens se acumulando.
Por fim, o poema SOBRE A LÁPIDE: O MUSGO. Um recorte de cenas trágicas. Cenas em que a autoria pertence ao próprio homem. Uns causadores e outros vítimas. Temos o chumbo entrando na clavícula; espalhando sementes por salas, quartos, cozinhas, sótãos... São geleiras definhando, línguas dormentes, canos estourados, vento uivando, sarnas, falanges, engulhos, veias abertas, cupins migrando, estampidos, viadutos e ossos estalando... São recortes do terrorismo que não podem ficar apenas nos quinze segundos de nossas tevês, seguidos por um comercial de bronzeador. Haveria ainda espaço para o humanismo praticável ou já nos basta a nossa vaidade de cada dia? Fica a provocação para a leitura deste POETA que tão bem vem representando o nosso tempo.
Cynthia Damasceno
ResponderExcluirEu já devorei o livro, já emprestei e tudo.
Helder e outros de sua geração, como Mário Rodrigues, serão os autores que nossos netos vão estudar na escola.
ResponderExcluirTemos sorte de podermos vê-los tão de perto!
Gilca:
ResponderExcluirTem um poema do vaso sanitário que é muita onda. Mente fértil aew viu.
Fodão.
ResponderExcluirTenho certeza que esse livro será mais um sucesso desse grande poeta que já é: Hélder Hérik
ResponderExcluirExemplo de dedicação e de que quando os políticos não investem e não apoiam, o povo vai atrás porque gosta, conhece, e acaba gostando e conhecendo ainda mais...
ResponderExcluirParabéns e sucesso a mais um de nossos artistas.