Uma das escritoras que melhor deixou sua marca nas letras brasileiras, se estivesse viva, estaria completando 100 anos nesta quarta-feira (17). A cearense Raquel de Queiroz (foto), nasceu em Fortaleza, no dia 17 de novembro de 1910. Tornou-se notável não só pelo “O Quinze” e “Memorial de Maria Moura”, aqueles que são considerados os seus grandes livros, mas também por ter sido a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 2003. Em homenagem à autora de “Caminho das Pedras”, transcreveremos trecho de um escrito seu:
Você começa quando aprende a juntar as letras; faz frases engraçadinhas que seu avô acha gênio e mostra a todo mundo. Então você se convence de que é escritor. Essa convicção representa um compromisso, desde aquela idade remota, "já que é um escritor, é obrigado a escrever". Se os pais são medíocres intelectualmente, o exercício da suposta vocação torna-se fácil.
Mas quando os pais são ou literatos ou simples letrados muito mais lhe é exigido. Você tem que apresentar originalidade ao lado da qualidade. Isso quer
dizer que você, desde esses inícios, já padece a maldição do escritor: ter estilo e idéias animando esse estilo. Em geral, os pais se embasbacam diante de qualquer manifestação intelectual precoce dos filhotes. Se eles não têm formação intelectual sofisticada, tudo bem. Qualquer paráfrase dos livros da escola já lhes parece excelente.
Mas pais sofisticados é fogo. Não precisa nem que eles leiam os modernos, Drummond, Guimarães Rosa, Cecília Meireles, para só citar os mais ilustres e defuntos. Pai letrado quer que o filho faça pequenas frases, emita conceitos, tudo dentro da baixa qualidade que a sua literatice considera excelente. Portanto, para a qualidade da obra do filho, é melhor que os pais não tenham fumaças literárias e deixem que o menino seja o seu próprio juiz.
(Trecho de “Escrever” - Raquel de Queiroz)
Você começa quando aprende a juntar as letras; faz frases engraçadinhas que seu avô acha gênio e mostra a todo mundo. Então você se convence de que é escritor. Essa convicção representa um compromisso, desde aquela idade remota, "já que é um escritor, é obrigado a escrever". Se os pais são medíocres intelectualmente, o exercício da suposta vocação torna-se fácil.
Mas quando os pais são ou literatos ou simples letrados muito mais lhe é exigido. Você tem que apresentar originalidade ao lado da qualidade. Isso quer
dizer que você, desde esses inícios, já padece a maldição do escritor: ter estilo e idéias animando esse estilo. Em geral, os pais se embasbacam diante de qualquer manifestação intelectual precoce dos filhotes. Se eles não têm formação intelectual sofisticada, tudo bem. Qualquer paráfrase dos livros da escola já lhes parece excelente.
Mas pais sofisticados é fogo. Não precisa nem que eles leiam os modernos, Drummond, Guimarães Rosa, Cecília Meireles, para só citar os mais ilustres e defuntos. Pai letrado quer que o filho faça pequenas frases, emita conceitos, tudo dentro da baixa qualidade que a sua literatice considera excelente. Portanto, para a qualidade da obra do filho, é melhor que os pais não tenham fumaças literárias e deixem que o menino seja o seu próprio juiz.
(Trecho de “Escrever” - Raquel de Queiroz)
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