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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Texto da atriz Duvennie Pêssoa sobre o espetáculo "Mais um Tiquim de Nós"

Foto: Duvennie encenando "Que muito amou"

Sabe aquele livro que a gente não quer acabar de ler porque é tão bom, tão bom, que a gente não quer se separar dele? Sabe aquela novela que vai chegando aos últimos capítulos e a gente se entristece porque não vai mais ver aquelas personagens de novo? Pronto! Foi exatamente assim que me senti ao perceber que o espetáculo Mais um Tiquim de Nós não era pra sempre.

Engraçado é que a gente nem imagina o turbilhão de emoções que a peça, na sua simplicidade, pode provocar. Porque é exatamente isso, o simples e puro de nossa terra nordestina, cantado, encenado e declamado. Um pouco de estranheza no início, sim, um pouco, não estamos acostumados com a quebra dos padrões. A gente procura a personagem principal e, se perde na nossa limitação porque é a música delicada e às vezes triste, às vezes risonha, que desfila costurando os fatos e dando o tom da cena. Os instrumentos não se escondem no fosso, estão vivos no cenário, os músicos são atores também, vivem a história, que é a mesma para tantas famílias nordestinas. A partida para o sul do país, a separação dos entes queridos, a morte do pai, o nascimento do filho, o casamento que não deu certo.
A música suave se debruça sobre a platéia como uma nuvem, transportando as almas pra dentro da cerca, pra dentro da casa, pra dentro da gente mesmo, nos fazendo relembrar e reviver sentimentos tanto de dor quanto de alegria.

Os atores abraçam a música, dançam e conversam com ela. São conduzidos e a conduzem, se encaixam no cenário, no tempo, na fala.
Tive a chance de ver Mais um Tiquim de Nós duas vezes. Na primeira, me perdi, primeiro com o título. Se eu não tinha visto Um Tiquim de Nós, como ver mais um tiquim??? Me perguntava, de nós, quem? Me angustiava, mas porque ninguém fala logo? Porque só música assim no início? Em poucos minutos mergulhei naquele universo do qual também sou parte, é a minha terra também, é a minha gente também, era eu chorando a morte do pai, era eu me despedindo da família pra melhorar de vida!! Então era um tiquim de mim!! E que parceira não tive na vida senão a música, sempre, me conduzindo e se deixando conduzir de acordo com meus ânimos, minha fé? Chorei. Ri. E saboreei o fato de ser eu mesma, e ao mesmo tempo Maria, João e Joaquim.

Na segunda vez, disputei espaço nos bancos lotados do Teatro Luís Souto Dourado, em pleno Festival de Inverno de Garanhuns. Mas dessa vez eu já sabia pra onde eu ia, pra onde seria transportada. Estava calma e ansiosa ao mesmo tempo. Qual nada! Mais um Tiquim de Nós me trouxe mais que um tiquim. Inovou, preencheu cenas que nem pareciam que precisavam ser preenchidas e, surpreendentemente, conseguiu ficar ainda melhor!
Quero ver mais um bocado de Mais um Tiquim de Nós sim, e levando em conta os aplausos do público, a maestria e delicadeza de Prof. Janduy em conduzir tão belo espetáculo e os convites que já recebeu pra se apresentar no Pernambuco Nação Cultural, sei que chances não vão faltar.

A gente, que ama arte, sente falta disso, de boas obras oriundas de nossa terra e sente mais falta ainda quando pode ver uma vez, mesmo sabendo que pra ver de novo terá que sair de Garanhuns. Infelizmente, aqui, nenhuma peça fica em cartaz, nenhum espetáculo faz temporada. Nosso teatro não cumpre sua função de Teatro da Cidade durante os 355 dias do ano que não temos Festival de Inverno, está mais pra salão de eventos do que aparelho cultural.
Parabéns, Professor, parabéns, elenco! Talvez um dia a gente de Garanhuns possa aplaudir de pé, não só Mais um Tiquim de Nós no nosso teatro, mas tantas e tantas outras peças de qualidade criadas aqui, na nossa terra, obras que, infelizmente, foram esquecidas por aqueles que não amam arte, mas que, no entanto, a gerenciam.

(Duvennie Pêssoa)

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